INTRODUÇÃO A LITERATURA PORTUGUESA


1.      Características gerais da Literatura Portuguesa
                                                                                                                                                                     
                   Aubrey Bell afirma que a Literatura Portuguesa é a maior que um pequeno povo produziu, exceptuando a da Grécia Clássica. Por outra banda, segundo Figueirido, as principais características da Literatura Portuguesa são:
1)       Importância dos ciclos dos descobrimentos, provavelmente não exista nenhum autor que não insira o mar na sua obra.
2)       Predomínio do lirismo sobre o épico e o dramático, exceptuando obras como Os Lusíadas de Camões ou A mensagem de Pessoa, que não são obras líricas.
3)       Frequência do gosto épico, no passado houve em Portugal a tendência de buscar personagens de classes importantes.
4)       Escassez de teatro.
5)       Carência de espírito crítico e filosófico, não é doado achegar um grande nome da filosofia em Portugal já que a filosofia está feita por narradores e, sobre tudo, por poetas.
6)       Separação do público.
7)       Certo misticismo de pensamento e sentimento. Há mitos muito recorrentes na Literatura Portuguesa:
n           Sebastianismo: faz referência ao rei Dom Sebastião, que desaparece mas ninguém o vê morrer, pelo que é símbolo da esperança. É um mito retomado até a actualidade (Pessoa).
n           Inês de Castro, que morre por amor.

                   Alguns ensaístas como António Quadros ou Eduardo Lourenço não contestam a estas características, mas apontam detalhes com o barroquismo.

                   No século XX podemos destacar as seguintes características na Literatura Portuguesa:
a)          Há escritores que se empenham no dialectalismo, outros no arcaísmo/barroquismo (Saramago), na musicalidade...
b)         Influência da política na literatura, em especial da ditadura salazarista:
n           Proclamação da república em 1910.
n           Poder dos militares em 1926.
n           Revolução dos cravos em 1974.
c)          Há uma escassez de romance até a 2ª metade do século XX, nas últimas décadas do século XX o mercado favorece a explosão deste género, assim aparecem novelas:
n           Psicológica.
n           Histórica.
n           Costumista.
n           Problematizante (Ferreira).
n           Experimental.
d)         Desde os anos 30 há muitas escritoras, já que a mulher já pode aceder à universidade.

2.      Língua, Literatura, a História da Literatura

  2.1. Língua

A)         Plano diacrónico:
n          Primeiros documentos escritos: datam do século XII (cantar de amigo de Sancho I).
n          Língua falada: data do século IX, dato que podemos saber pelos erros dos escribas, para os que o latim era já uma língua difícil e introduziam características da língua falada.
n          Até o século XV não diferenciação entre português e galego-português, embora a língua tinha características diferentes do português actual:
         ão > om
         s = z
         ss = s
         pronúncia de ch como tch
n          No século XVI já há uma diferenciação entre português e galego-português que se mantém até a actualidade. As características do galego-português se conservam na Galiza, no Minho, em Trás-os-Montes e em Beiras.

B)          Plano diatópico:
n          Brasil: sotaque característico de possível procedência africana.
n          Outros lugares nos que se fala português: Goa, Damão, Diu...
n          Crioulos: Cabo Verde, Ceilão, Guiné...
n          Galiza: sofre a influência da colonização castelhana e a perda de contacto com a zona portuguesa. Embora os galegos se entendam falando com os portugueses, a ortografia galega obedece às regras castelhanas.

                   A língua tem uns 200 milhões de falantes na Europa, na América e na Ásia, sendo a terceira língua intercontinental. Tem três variedades principais: o lusitano, o brasileiro e o galego; e há duas forças contraditórias que actuam sobre ela: a diferenciadora (linguagem quotidiana) e a unificadora (linguagem escrita).

C)         Diferenças do português com o castelhano:

1)      Teorias que explicam a diferenciação linguística:
n          É possível que já antes da romanização se falasse uma língua ou uma família de línguas diferentes no Noroeste da Península, o que sustentaria a teoria dos substratos. Isto faria que o latim evolucionasse de forma distinta nesta zona, o que diferenciaria o galego-português do castelhano. Esta é a teoria que melhor explica a existência de diferentes línguas na actualidade.
n          Outra teoria para explicar esta diversidade linguística é a da penetração árabe, que teria contribuído para a diferenciação linguística que daria lugar ao galego-português e ao castelhano.

2)      Características que diferençam as duas línguas:
n          Desaparecimento do n e o l entre vogais, que seria a característica mais antiga e única do Noroeste peninsular. Isto dá lugar em português a uma série de vogais nasais.
n          Vocalismo muito mais rico em português (12 vogais), mentes que o castelhano é mais rico em consoantes.
n          Preferência pelos ditongos descendentes em português face à preferência pelos ascendentes no castelhano.
n          Ritmo e sotaque: são a principal diferença. A sílaba tónica é muito forte no português e o ritmo e muito ondeante. Isto faz que os castelhanos não entendam o português falado, embora o compreendam escrito, e os portugueses si sejam quem de entender o castelhano falado.
n          Vocabulário e gramática: estão mais próximos que noutros aspectos, mais com o tempo têm-se distanciado. Uma peculiaridade do português e o galego é o infinitivo pessoal e o uso do perfeito simples.

  2.2. História Literária

                   A História da Literatura é o estudo sincrónico – diacrónico das obras literárias. O mais sensato é estudar por separado a Literatura Portuguesa da literatura em Portugal.

3.      O literário e o não literário, o estilo, os géneros etc.[1]

A)         Literatura vs. scriptura: O termo literatura procede das verbas latinas littera e litteratura. O significado moderno da palavra aparece no século XVIII, momento no que se aplica “aos saberes e ciências profanas consagrados mediante letra escrita”, opondo-se a scriptura, que se refere aos textos religiosos, sagrados.

B)          Que é algo literário?: é uma pergunta que há muitos séculos que se intenta responder. Algumas características dos textos literários são:
n          Têm muitas significações.
n          Usa linguagem literária.
n          Pode-se afastar da norma (procura surpreender).

C)         Que é o estilo?: é a maneira com a que um autor manipula a língua, neste caso está ligado a escolas, modas, épocas... O estilo distingue o que é literário do que não o é.
D)         Os géneros: é uma das questões mais discutidas desde Platão. Em geral, seguem-se os chamados géneros ou formas naturais: lirismo, narrativa e teatro. Porém há zonas um pouco difusas.

4.      O problema da periodização

                   A periodização é objecto de grande discussão desde o ponto de vista teórico:
1)       Há quem rejeita as etiquetas (Classicismo....)
2)       Há quem prefere as etiquetas.
3)       Há quem conjuga as duas posturas anteriores.
4)       Há quem tem uma concepção circular da literatura, é dizer, cada geração contradiz a anterior, embora possa voltar a usar elementos da geração anterior.

5.      A divisão histórica da Literatura Portuguesa

Época Medieval

Período trovadoresco

Período palaciano
Época Clássica
Período renascentista
Período barroco
Período neoclássico ou arcádico
Época Moderna
Período Romântico
Período Realista
Época Contemporânea
Tradicionalismo
Modernismo
Neo-realismo ou Superrealismo[2]

                   Com tudo, esta divisão histórica é discutível.

6.      Sistema cultural da Idade Média, espaço social galego-português nos século XII e XIII

                   As pessoas das diferentes classes sociais produziam e consumiam diferentes tipos de literatura:
a)          Clero: produz e consume obras didácticas (geografia, história...).
b)         Nobreza: romances de cavalarias, cantigas de amor cortês.
c)          Labregos: cantigas de escárnio e maldizer.

                   Desde a mediados do século XII até mediados do século XIV os produtores são trovadores, cantadeiras, soldadeiras, jograis... A sua nacionalidade depende de quem fale deles. Em geral, podemos dizer que pertencem ao âmbito geográfico da franja ocidental da Península.

  6.1. Géneros das cantigas

                   Os géneros fundamentais segundo a Poética fragmentária ou Arte de Trovar são:
1)      Cantigas d’amor: o sujeito lírico é um homem e aparece a palavra senhor.
2)      Cantigas d’amigo: o sujeito lírico é uma mulher e aparece a palavra amigo.
3)      Cantiga d’escarneo e cantiga de mal dizer: a primeira caracteriza-se por usar palavras cobertas (com dobre sentido) e a segunda por ser mais directa. O que as distingue é um elemento estilístico, não temático, pelo que pode aparecer o nome da pessoa à que se refere numa cantiga d’escarneo.

                   Outros géneros são:
1)      Tenção: cantiga composta por dois trovadores em estrofes alternadas como o mesmo esquema estrófico e métrico-rimático. Satirizam-se ou discutem opiniões contrárias.
2)      Cantiga de seguir: são cantigas que imitam outras doutros produtores.
3)      Pastorela: encontro entre um cavaleiro e uma pastor num ambiente campestre. Pode ter interferências da cantiga d’amor ou da cantiga d’amigo.
4)      Descordo: cantiga que não segue as regras métricas, estróficas e melódicas de estrofe para estrofe.
5)      Lais de Bretanha: caracterizam-se pelo seu conteúdo. São traduções e adaptações de lais líricos franceses.
6)      Alba: denominação que nalguns manuais se lhe dá a certas cantigas d’amigo nas que os dois amantes se têm de separar ao amanhecer.
7)      Cantigas de Santa Maria: cantam a Maria. Há mais de 400 poemas deste tipo, dos quais o 90% são narrativos, mas também os há líricos.

                   As cantigas são textos concebidos para ser cantados, mas a associação texto – poesia só a conservamos no Pergaminho Vindel, no que 6 das 7 cantigas de Martim Codax têm notação musical.

                   No que faz referência à forma, as cantigas podem ser de refrão (geralmente as de amigo) ou de mestria.


[1] Ver apontamentos de Teoria da Literatura.
[2] É mais tardio que o da França e pode ir por separado ou não, segundo a concepção.

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